quinta-feira, 22 de abril de 2010

Matéria a Veja Rio

Em 2007, os diretores Claudio Botelho e Charles Möeller — sempre eles — adquiriram por uma pechincha os direitos de Gypsy, musical de trajetória cinquentenária na Broadway. Pagaram 30 000 dólares, menos de um terço do que desembolsaram para encenar O Despertar da Primavera, atualmente em cartaz em São Paulo. Deram sorte. No ano seguinte, chegava aos palcos nova-iorquinos uma montagem da peça com a atriz Patti LuPone que, graças aos três prêmios Tony conquistados, relançou luz sobre a obra e elevou sua cotação. Aumentou, também, a responsabilidade da dupla brasileira, que assina a adaptação do espetáculo, com ensaios abertos a partir da próxima sexta (23) e estreia oficial prometida para uma semana depois, no Teatro Villa-Lobos, em Copacabana. A atração, pela primeira vez no Brasil, reúne canções de Stephen Sondheim e Jule Styne, coreografia de Jerome Robbins e texto de Arthur Laurents. “É a combinação perfeita”, exalta Möeller.

Encenado na Broadway em 1959 (veja o quadro abaixo), Gypsy é tido como um clássico no sentido rigoroso do termo, em oposição a musicais mais pop e recheados de hits, como A Noviça Rebelde. Apesar do título, a trama nada tem a ver com o universo cigano. Ela se baseia numa história real, a vida da stripper Gypsy Rose Lee, de sua mãe e de sua irmã mais nova nos bastidores do showbiz americano entre 1910 e 1930. Laurents desenvolveu o libreto a partir da biografia Gypsy: a Memoir, lançado em 1957 pela estrela de vaudeville Rose Louise Hovick (1911-1970). A protagonista é a matriarca controladora Rose Thompson Hovick (1890-1954), a Mama Rose, uma mulher cheia de artimanhas para fazer suas meninas deslanchar na carreira artística, sobretudo a caçula, June Havoc (1912-2010), morta em 28 de março. Na edição brasileira, o papel principal cabe à atriz Totia Meireles, e suas filhas são vividas por Adriana Garambone e Renata Ricci. “É um personagem para atleta de elite. Mama Rose participa de cenas movimentadas do início ao fim”, afirma Möeller. “Realizo nove trocas de figurino e canto oito músicas”, resume Totia, que há mais de um ano se prepara com aulas de canto e impostação de voz.

Gypsy é o 25º espetáculo concebido por Möeller e Botelho, mantendo a média de duas montagens por ano da bem-sucedida parceria, iniciada em 1997 com As Malvadas. Como tem sido marca da dupla, o primeiro responde pela parte cênica, enquanto o segundo se atém mais à trilha sonora e ao texto. Sob qualquer ângulo, trata-se de uma produção grandiosa, ao custo de 6 milhões de reais, envolvendo cerca de 100 profissionais, entre artistas e técnicos. Os números são, de fato, superlativos. Com 55 integrantes — incluindo as catorze crianças em revezamento nas apresentações —, o elenco foi quase todo escolhido por meio de testes. A orquestra reúne dezessete instrumentistas, quantidade incomum para atrações desse gênero. Criados por Rogério Falcão, os dezoito cenários passam por trocas o tempo todo. E, por último, mas não menos importante, há ainda 140 figurinos de época desenhados por Marcelo Pies.

Embora Gypsy ainda não tenha estreado, a linha de montagem da dupla Möeller e Botelho não pode parar. A Aventura Entretenimento, sociedade dos diretores com a produtora Aniela Jordan e o empresário Luiz André Calainho, já investe em outra mega-atração, com estreia prevista para outubro, no Teatro Oi Casa Grande. É o libelo da contracultura Hair, de enorme sucesso nos cinemas e propagador dos hits Aquarius e Let the Sunshine In. Pelo menos cinquenta funcionários da empresa trabalham em um prédio no Humaitá na pré-produção da peça. “Temos os direitos, o patrocínio e o local. Por que não montar?”, acrescenta Botelho. A temporada se anuncia promissora para quem aprecia bons espetáculos de canto e dança.

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